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05/02/2023 às 16h25 - atualizada em 06/02/2023 às 00h28

Felipe Farias

Maceió / AL

Aterrador – e continua: cassaram Maria Tereza
Entoar o Hino para pneu seria cômico se não fosse trágico; mas, ainda não acabou
Aterrador – e continua: cassaram Maria Tereza

Ainda no começo da semana, quando o país – e o mundo – viviam o impacto da descoberta do terror humanitário Yanomami, as redes sociais do ACTA, assim como diversos outros veículos, repercutiram reportagem de Sonia Bridi e Paulo Zero.


E eis que não foi senão outro o adjetivo para definir o conteúdo de comentários nefastos de quem ainda se encontra na degeneração intelectual e cognitiva de questionar a origem dos índios: aterrador.


Como lembrei, então, agências de checagem de fatos, citadas por portais como o G1 mostram a confirmação de entidades como Expedicionários da Saúde ou Survival International de que os índios são brasileiros.


A Funai confirmou, a PF confirmou.


E, mesmo que não fosse.


Essas mentes já carcomidas pelo ódio não estão nem aí para o fato de haver crianças e idosos naquela situação – o que levou a repórter Sônia Bridi deixar de lado qualquer distanciamento profissional e pegar a criança no colo, como se fosse da equipe de resgate, como mãe, como ser humano.


Humanos que os autores e autoras desses comentários deixaram de ser faz tempo.


Relevei os ataques ao portal – algo que o bolsonarismo naturalizou – e porque ataques são inerentes à atividade da imprensa, desde que imprensa é imprensa.


E quanto mais séria, mais ataques; quanto mais procurar ser isenta, mais frequentes.


Como diz a máxima, ora atribuída a Goerge Orwell ora a Lord Northfleet, “jornalismo é algo que deixa alguém, em algum lugar, muito contrariado; o resto...” (fico por aqui porque o complemento da citação original é deselegante).


A desvirtuação do bolsonarismo é que, em vez de virem como sempre vieram, de governos e demais poderosos acossados, agora vêm do próprio povo.


Mais uma consequência do derretimento intelectual desse segmento.


Afinal, essas pessoas não conseguem ver que a imprensa está prestando um serviço a elas.


Ou, recorrendo às palavras do ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes:


“Lavagem cerebral transformou pessoas em zumbis, pessoas repetindo ideias absurdas, pessoas cantando o Hino Nacional para pneus, pessoas esperando que ETs viessem para o Brasil resolver o suposto problema da urna eletrônica”.


E não há o que discutir porque as situações citadas foram mostradas – em noticiários.


Interpretação endossada pela reportagem intitulada “Como medo e nostalgia do 'mundo de ontem' viraram arma para radicalizar brasileiros mais velhos”, assinada por Paula Adamo Idoeta e Luís Barrucho, da BBC, e publicada no G1.


Com o subtítulo “Insegurança e percepção de ameaça a valores tradicionais, junto a suscetibilidade à desinformação, colocam idosos sob risco maior do populismo e do extremismo de direita”, a reportagem mostra a avaliação das pessoas que cometem todas as presepadas enumeradas pelo ministro, que frisou “o que poderia ser uma comédia é uma tragédia; uma tragédia que resultou na tentativa frustrada de golpe no dia 8 de janeiro”.


Ao entrevistar uma das integrantes da turba que ocupou a Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), apresentada sob o nome fictício de Heloísa, os jornalistas mostram, pelo lado de dentro, a lavagem cerebral.


"Não assisto à TV desde 2015. Naquele ano, eu me politizei ao descobrir o Brasil Paralelo [canal bolsonarista desmonetizado por ordem do Supremo Tribunal Federal] e o Olavo de Carvalho [ensaísta e influenciador digital de direita, morto em janeiro de 2022]", diz dona Heloísa.


"Quero um país melhor para mim, para você e para todos. O Lula e a esquerda vão implementar o comunismo no Brasil. Vamos virar uma Venezuela, uma Cuba, uma Coreia do Norte", argumenta.


Dona Heloísa, ou seja qual for o seu nome, agora que Lula está sendo considerado por analistas “mais à esquerda” que ao chegar à Presidência para o primeiro mandato.


Porém, a frente ampla que costurou é um dos fatores a mostrar o que eu colocava há um tempo: o presidente pode, hoje, ser considerado muita coisa – é um progressista, com certeza! –, mas, estava longe de ser de esquerda; o que dirá comunista.


Aliás, a avaliação dos analistas – de que ele está “mais” à esquerda endossa isso: estaria mais pendente para esse lado; não nele.


Outro fator está do lado dele.


Não, não é a primeira-dama, socióloga Rosângela Janja Lula da Silva: o hoje aliado a ponto de ser o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin (PSB), por décadas expoente do que havia de liberal no estado mais liberal do país (sob o prima econômico), São Paulo – o qual, não por acaso, chegou a comandar à frente do PSDB.


E que lhe valeu a enxurrada de críticas que recebeu de João Dória, por deixar o ninho tucano e se aliar ao projeto de Lula.


E a opção pelo popular do atual presidente não tem nada de comunista ou mesmo esquerdista.


Querer que as pessoas de seu país façam no mínimo as três refeições por dia não é uma questão de ideologia: é dignidade, humanidade e até questão de caridade.


E é nesse ponto que o processo descrito pelo ministro e comprovado pelas palavras da entrevistada na reportagem da BBC trazem sua face cruel: a desumanização das pessoas cujas mentes derreteram perante a perversão chamada bolsonarismo.


O ódio assassino de Jorge Guaranho contra o guarda municipal de Foz do Iguaçu (PR) Marcelo Arruda foi uma das faces dessa perda da condição de humano.


A tentativa de inversão da condição dos índios é outra, não deixa de ser.


Afinal, como disse em texto da época.


Deixa ver se eu entendi (o argumento dos bolsonaristas): um grupo de indígenas, moribundos, famintos, doentes e sem forças, saiu da Venezuela, andando algumas dezenas de quilômetros, pelo meio da floresta, para vir parar ao lado de uma região de garimpo (onde sabem que não vão ter água, pescado ou caça) apenas para morrer.


Os 21 ofícios de órgãos como Funai, PF e Exército denunciando a situação também vieram da Venezuela; o da pura Damares Alvez, recomendando não apoiar a saúde indígena, também veio de lá e o desvio de mais de R$ 820 milhões desse serviço público tão importante para os povos da região, enviando os recursos para uma congregação evangélica ligada aos então mandantes do país também vieram do país vizinho... Sei...


Também teriam vindo não-se-sabe-de-onde os vídeos de Bolsonaro dizendo que não iria assinar mais nenhuma demarcação de área indígena; a manobra criminosa de tornar sem efeito as demarcações, pedindo regime de urgência (quando era deputado), bem como outro que circulou também recentemente, em que está numa praia e diz que "vai acabar com tudo isso aí", em referência a reservas indígenas, preservação ambiental e direitos humanos.


A exemplo do que coloquei no comentário sobre as declarações do ministro Alexandre de Moraes: temos uma circunstância clara de pessoa que “estava no lugar certo na hora exata”.


Coincidências não existem, mas, também não acredito em teorias da conspiração: o ministro já estava na linha de sucessão que o levaria à presidência do TSE (e ao comando das mais importantes eleições para o Brasil, a de 2022) muito antes de o país carecer de um pulso forte para garantir a lisura das urnas eletrônicas, desmanchar os golpes (jurídicos) de querer anular a votação apenas para o cargo de presidente e chamar à responsabilidade quem atacou o processo eleitoral brasileiro (até hoje sem apresentar prova nenhuma).


À falta de explicação melhor, a constatação possível: o Brasil tem muita sorte, mesmo.


Porém, não deixemos de ficar alertas.


E independentemente de estarmos aqui ou em outro estado, não se pode admitir abusos como a cassação da vereadora Maria Tereza Capra (PT), de São Miguel do Oeste (SC), por repudiar as incontestáveis expressões de saudação nazistas em ações golpistas, no período que se seguiu ao resultado da etapa final das eleições.

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