13/10/2022 às 16h16
Acta
MACEIO / AL
A charge é o melhor exemplo do que significa ser a eleição de 2022 apontada como “a mais importante da história do Brasil”.
Além de ser a mais bem-humorada.
Afinal, de exemplos dramáticos desse dilema que nós, brasileiros estamos vivendo, já bastam as brigas diárias, os ataques e insultos nas ruas ou em plena sede da Padroeira do país.
E a despeito de ilustrar o espaço, vale ser descrita: as pegadas e o ambiente com dunas remetem a um deserto. O carrinho de vendedor de sorvete é abordado por um sedento e, ao conferir o que sobrou, este informa ao potencial comprador: só há dois sabores.
Um, aquele entre os mais populares do mundo: morango. O outro – para nos pouparmos de palavras chulas –, de excrementos.
E eis que, apesar de se encontrar na desesperadora situação, o sedento ainda se mostra em dúvida sobre a escolha.
É insólito – ou seja, este quadro não existe.
Mas, diga-me quais charges são de todo verossímeis e te direi que fotos melhor resumem um contexto.
É por isso que, enquanto imagens, não há palavras que falem melhor que esses dois tipos de expressão.
É, pois, o quadro diante do qual nos deparamos.
O deserto, com o devido respeito ao ecossistema e aos povos que os habitam, e da beleza que há nos dois – desertos e seus povos –, seria a aridez de tudo o que há de errado no país.
O que pode haver de inóspito num país que cultua mais uma arma que o respeito, o diálogo ou até a fé; o uso desta para pedir votos ou ganhar dinheiro; a falta de empatia com seu povo, por tragédias, seja uma pandemia ou a fome; a corrupção doméstica e institucionalizada no recurso ao decreto de sigilo de cem anos e no aparelhamento de órgãos de fiscalização e de combate a ilícitos, do Ministério do Meio Ambiente à Polícia Federal; a disseminação e o culto à ignorância e a demonização da cultura, da arte, do saber e da educação.
O culto à segregação, à homofobia, à xenofobia, à discriminação, racismo e à humilhação alheia.
Enfim, enaltecer tudo o que degrada o ser humano e degradar tudo o que o eleva.
E tudo isso com uma hipocrisia que deixariam os piores ditadores, tiranos, déspotas, crápulas e vilões vermelhos de vergonha.
Afinal, é ou não uma hipocrisia sem tamanho “vender” todo esse erro sob o rótulo de que é assim que devem agir pessoas “de bem”, defensores da família, da pátria e de Deus?
Ah! Vermelho, não – porque você pode ser agredido na rua.
Tudo isso é o universo do bolsonarismo, é sua crença, seus “valores” e suas práticas.
É o “outro” sabor no carrinho de sorvete no meio do deserto.
E é por isso que estamos diante da mais importante decisão de nossa história. Como têm referido diversos analistas: uma decisão entre a democracia e o totalitarismo dos sigilos de cem anos e dos “cala a boca” para repórteres; entre a civilidade da cultura, educação e arte e a barbárie do culto à arma e da mercantilização da fé.
Ou como endossou de modo mais pertinente o colega Derek Gustavo: não é uma eleição, é um plebiscito.
E não porque é sabor morango – também compactuo com Ciro Gomes de que, no fundo, o oponente a Jair Bolsonaro tem uma parcela de responsabilidade nesse quadro de hoje.
A História – com “h” maiúsculo – se encarregará de revelar, a seu modo preciso e distante, e por isso implacável. É apenas e tão somente porque é ele, hoje, o oponente a Bolsonaro.
Mas, isso é assunto para outra conversa. E a decisão para outra eleição.
Em 2026, nós, brasileiros, faremos, de verdade, uma escolha para presidente: por enquanto, vamos escolher, no fundo da sede em meio a um deserto, entre o sabor morango e o outro...
Com a palavra, Felipe Farias
Blog/coluna Felipe Farias tem 33 anos de carreira no jornalismo. Passou por vários veículos impressos e também pela TV. Atualmente, apresenta o "Com a Palavra", no YouTube do Acta; e também é comentarista no "Jornal do Acta". Neste espaço, você vai encontrar análises e comentários a respeito do cenário político local e nacional.Há 2 horas
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