10/01/2023 às 00h15
Felipe Farias
Maceió / AL
As autoridades do Distrito Federal não foram lenientes, sinônimo de “suave”, “brando”, “moderado”, “ameno”, “fraco”.
Fraco foi o ministro de Lula, José Múcio (logo de que pasta... Defesa...), que apostou no diálogo para pôr fim aos acampamentos golpistas.
Logo com quem...
Com fascistas, cujo traço mais caraterístico é repudiar o diálogo; abominar a contestação e tratar diversos como inimigos – e, de preferência, defendendo aniquilá-los...
Não, as autoridades do DF não foram lenientes: foram cúmplices.
Se o governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) não sabia o que estava se passando entre os acampados golpistas errou.
Se não colocou a Inteligência de suas forças de segurança para saber o que se tramava – principalmente após se descobrir um terrorista com intenções como as de George Washington Oliveira – no bando de golpistas errou.
Afinal, é o responsável pela unidade federativa onde estão as sedes dos três Poderes, sem contar os demais órgãos e instituições que fazem do DF a de importância mais delicada e sensível – institucionalmente, ainda que não estrategicamente.
Aliás, bem provavelmente, não estaria estrategicamente naquele ponto, no centro geográfico do Brasil, apenas por questões simbólicas.
E se Ibaneis Rocha o fez, soube do que soube e não fez nada, errou mais ainda.
Prevaricou – cometeu um crime.
Porém, pelo visto, não “só” foi isso (como se já não fosse bastante): se acumpliciou com os golpistas.
Forças de segurança agem sob comandos.
Se há os desviados na tropa – como os agentes da PRF que apoiaram bloqueios ou da Polícia Rodoviária de São Paulo que bateram continência para baderneiros – que sejam punidos.
Se não foram, o governador do DF (assim como os demais) também errou.
O pronunciamento que gravou ainda no domingo está longe de ser um pedido de desculpas.
Foi hipocrisia em estado mais cristalino.
Assim como a nota divulgada pelo ex-secretário de Segurança e ministro do governo Bolsonaro, Anderson Torres.
E de uma falta de caráter e hombridade ainda maiores por imputar à família uma falha que ele deveria assumir, ao atribuiu a ela o motivo das férias.
Convenhamos, secretário.
Ausentar-se do posto num momento como este não é acinte, não é mera cara-de-pau; é sarcasmo, é tripudiar da capacidade das pessoas inteligentes de saber o quanto está sendo cínico – e entre “inteligentes” não estão incluídos os integrantes do rebanho bovino bolsonarista.
Para os quais, enfim, até parte da grande mídia passou a dar a devida qualificação: terroristas, terroristas bolsonaristas.
Não importa se manipulados, detentores de mentes com poder de processamento de uma calculadora de bebês – e do século passado.
Terrorista bolsonarista.
Poderia até ser hipérbole, mas, é sempre bom reforçar, deixar marcado com firmeza na memória, no imaginário e no senso comum que, no Brasil atual, uma coisa significa a outra e vice-versa.
Não precisaríamos presenciar a afronta ao patrimônio brasileiro – histórico, artístico e institucional, enquanto símbolos – de obras de arte violadas, salas que deveriam simbolizar o orgulho de muitos, de pessoas do povo mesmo, das que vão à capital do seu país e se alegram em fazer fotos.
Concordem com o governo ou não, tenham votado em seus ocupantes ou não, mas, se orgulham de ver corredores e salões de palácios de Brasília, sabendo ser a expressão da imponência do centro de poder que vemos em tantos outros palácios por aí – mas, com noção de que nesse formato, com esses traços, com tal perfil, só existem em nosso país.
Não precisaríamos experimentar o amargo dessa experiência se os tivéssemos chamado pelo nomes que devem ter todos os elementos com que convivemos nos últimos dois meses: bandos, em vez de manifestantes; concentração de terroristas golpistas, em vez dos acanhados “acampamentos antidemocráticos” pedindo intervenção democrática.
Criminosos – porque pedir a quebra dos princípios democráticos não é exercício de direito à manifestação e liberdade de expressão coisíssima nenhuma. É crime.
Ora, quanta hipocrisia.
E chamando-os pelo nome, adotar as medidas cabíveis.
E o pior: patrióticos?
Vimos o quanto são “patrióticos” os terroristas em ação nesse domingo, na Praça dos Três Poderes.
Por isso, não foi sem preocupação que vi a grande mídia baixar o tom, nessa segunda (09) e passar a citar um igualmente hipócrita “bolsonaristas radicais” para identificar os que atacaram Brasília.
Parafraseando um internauta que respondeu postagem de perfil que contestava a ação dos terroristas – e usou um dos eufemismos: usar o adjetivo “radical” deixa implícito que haveria os não radicais, ou até moderados.
E, como lembrou o internauta, bolsonaristas são nazistas (vide a saudação no acampamento em Santa Catarina; a fala do então ministro da Cultura Roberto Alvim, de janeiro de 2020, com atitude, cenário e texto inspirados no ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbles, e as várias expressões supremacistas do governo Bolsonaro) e “não existem nazistas moderados”.
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