21/03/2021 às 16h17 - atualizada em 22/03/2021 às 14h21
Felipe Farias
Maceió / AL
Entre as mais de 290 mil vítimas da Covid-19, em todo o país, 624 são médicas e médicos, conforme o Memorial Virtual instituído pela entidade profissional do setor, o Conselho Federal de Medicina (CFM). De Alagoas, há onze profissionais citados na relação.
Apresentado na página oficial da autarquia, o espaço presta homenagem aos médicos que morreram no enfrentamento à doença. Ou, como este coloca: "morreram em atuação". Ou ainda – com o respeito devido –, utilizando da inegável comparação com a guerra que a saúde mundial trava contra a doença; que a ciência trava contra o vírus, e, ainda por cima – em lugares como o Brasil –, ambos travam contra o negacionismo, foram soldados que morreram em combate – soldados da vida, oficiais de alta patente em defesa do bem maior do ser humano.
Assim como demais profissionais de saúde, a exemplo de enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares e demais integrantes da chamada linha de frente.
Em meio a esta circunstância, é digno de nota que um dos dirigentes da entidade seja um dos alinhados de maior destaque, entre os médicos alagoanos, ao maior representante desse negacionismo no país: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O terceiro vice-presidente do CFM, o alagoano Emmanuel Fortes Cavalcanti, postou foto em suas redes sociais posando ao lado de Bolsonaro em que fez elogios e promessa de manter esse alinhamento com o presidente.
Na imagem, um dos méritos para o médico alagoano, que foi presidente do Conselho Regional de Medicina de Alagoas (CRM): era um dos poucos que aparecia de máscara – o próprio presidente não estava com o acessório protetor e nenhuma das pessoas próximas que é possível ver na imagem.
"Estive em solenidade onde estava o presidente Bolsonaro e aproveitei para fazer o registro e declarar que continuo confiando em seu governo", diz Emmanuel Cavalcanti, na postagem.
E continua:
"Estarei consigo em 2022 porque, nesses últimos trinta anos foi o presidente que mais investiu em construir a infraestrutura em normativos, leis, decretos, portarias e programas para efetivamente termos políticas de estado, não políticas de governo".
Embora conclua o texto com a ressalva: "confio em seu governo, embora não perca a capacidade de criticar aquilo com que não concorde".
Não foram poucos os exemplos em que Bolsonaro agiu indo de encontro à ciência e à própria categoria que Emmanuel Fortes representa, ao prescrever medicamentos sem comprovada ação preventiva ou curativa; ao participar de aglomerações – e, com isso, estimulando-as – e não usar a máscara, entre outras atitudes.
Um dos resultados foi parte da população seguir o exemplo, levando à sobrecarga do sistema de saúde. Entre as consequências dessa última estão o esgotamento físico, mental e psicológico dos profissionais de saúde, entre os quais os médicos e – por que não dizer – levando ao resultado fatal. Veja abaixo a relação dos médicos homenageados no Memorial do CRM.
Na página na rede social Instagram, sob o nome emmanuelfortes2022, Cavalcanti se apresenta como "médico atuante em prol dos cidadãos de bem!" e há também publicação de uma foto de reunião com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, datada de fevereiro.
"Nossa pauta era a vacinação, onde lembramos da importância de uma política para imunização dos médicos; e o fortalecimento do SUS, notadamente a atenção básica com o programa Médicos pelo Brasil", diz o texto referente a esta postagem.
O número, no endereço do perfil, é possível alusão à data das eleições gerais, no ano que vem. No mesmo perfil, aparecem postagens de quando Emmanuel Fortes foi candidato a deputado federal pelo PRTB.
Texto do memorial virtual – da página oficial do CFM:
Memorial – Esta é uma homenagem do CFM e dos CRMs para eternizar aqueles que dedicaram sua vida aos outros. Por trás das máscaras e dos equipamentos de proteção, existiam mais do que grandes médicos, existiam pessoas de um coração tão enorme quanto sua vontade de ajudar.
No transcurso dessa pandemia, esses profissionais partiram, deixando saudade e a certeza de que fizeram o que podiam e que, se pudessem, fariam mais ainda.
Este memorial está aqui para lembrarmos para sempre de todos os médicos e médicas brasileiros que enfrentaram bravamente a pandemia da COVID-19. Que a coragem e o espírito solidário, que eles tão bem materializaram, tornem-se exemplo para todas as gerações!
Relação dos médicos alagoanos homenageados pelo Memorial Virtual do CFM por perderem a vida, no embate contra a pandemia:
Eliane Buarque de Freitas Machado
☆ 05/12/1956 ✞ 12/05/2020
Aos 63 anos de idade, a médica atuava como diretora administrativa de uma clínica particular na capital de Alagoas e estava na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), foram mais de 30 anos de trabalho dedicados à saúde integral e bem-estar de crianças e adolescentes. Eliane era formada pela Universidade Federal de Alagoas em 1981, fundou o primeiro Banco de Leite Humano do estado e chegou à presidência da Sociedade Alagoana de Pediatria em 1994.
Hélio Nogueira Lopes
☆ 10/11/1922 ✞ 17/05/2020
Ex-prefeito de Penedo (AL) e ex-deputado estadual, Hélio Lopes tinha 97 anos e era formado pela Universidade Federal Fluminense em 1949. Foi diretor médico e provedor da Santa Casa de Misericórdia de Penedo e Secretário de Estado da Saúde.
Iasmin de Albuquerque Cavalcanti Duarte
☆ 12/08/1957 ✞ 22/05/2020
Era professora da Faculdade de Medicina (Famed) da Ufal. Médica pediatra, também atuava como diretora da Famed, possuía mestrado em Medicina pela Ufal (1997) e doutorado em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Pernambuco (2005).
Gumercindo Tenório Cavalcante Neto
☆ 09/09/1963 ✞ 16/06/2020
Tinha apenas 56 anos e era formado pela Universidade Federal de Alagoas em 1999. Natural de Bom Conselho(PE), atuou em municípios alagoanos como Anadia, Arapiraca e Palmeira dos Índios.
Hermínia Tavares da Silva
☆ 21/04/1951 ✞ 21/06/2020
Hermínia Tavares era formada pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) em 1978. Especialista em Clínica Médica, foi prefeita de Santa Luzia do Norte, interior de Alagoas, durante o período de 1992 a 1996. Ela também foi vice-prefeita do município.
José Denilson Souza de Melo
☆ 13/09/1955 ✞ 17/07/2020
Tinha 64 anos e era formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em 1978. Especialista em Cirurgia Geral, atuava em Arapiraca (AL).
Cícero Jorge Teixeira Cavalcanti
☆ 21/07/1952 ✞ 18/07/2020
Tinha 67 anos, era natural de Quebrangulo (AL) e formado pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) em 1978. Atuou como médico plantonista no município de Paulo Jacinto na Unidade Mista Marina Lamenha.
Carlos Antonio Ramos Cajueiro
☆ 26/11/1951 ✞ 29/07/2020
Tinha 68 anos e era graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) em 1986 e em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em 1975. Foi membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES). Atuou ainda como docente do Centro Universitário CESMAC, da UFAL e como médico nos municípios alagoanos de Junqueiro, Teotônio Vilela e Cajueiro.
José Antonio Secchin
☆ 17/03/1953 ✞ 14/07/2020
Paulista de Nhandeara, o ginecologista José Antônio Secchis formou-se em 1981 na Universidade Estadual de Ciências de Saúde de Alagoas e se estabeleceu no Nordeste. Além de trabalhar em Maceió, era plantonista, há mais de dez anos, no Hospital Perpétuo Socorro, em Garanhuns (PE).
Marden Washington Pires Cavalcante
☆ 05/01/1955 ✞ 04/06/2020
Formado pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, em 1986, o ortopedista Marden Washington Pires Cavalcanti, 65 anos, atuava na capital e no interior. Era plantonista no Hospital de Emergência do Agreste Dr. Daniel Houly (HE), em Arapiraca. “Neste momento de grade dor, rogamos a Deus que ilumine no descanso eterno e, ao mesmo tempo, nos solidarizamos com a família, pacientes, amigos médicos e todos os colegas de trabalho que tiveram a oportunidade de conviver com o Dr. Marden”, afirmou o hospital em nota.
Ana Lúcia Borges Ramalho
☆ 16/02/1948 ✞ 02/06/2020
A pneumologista Ana Lúcia Borges Ramalho, 72 anos, graduou-se na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) em 1972. Atuou no Programa de Controle de Tuberculose. Seu último trabalho foi na prefeitura municipal de Branquinha, interior de Alagoas, atuando no Programa Saúde da Família (PSF).
Há 39 minutos
Vigilância Sanitária interdita clínica de estética que usava produtos vencidosHá 1 hora
Polícia Civil de Alagoas cria Diretoria de Homicídios para todo EstadoHá 3 horas
Isenção para quem ganha até R$ 5 mil será enviado ao Congresso dia 18Há 3 horas
O que você precisa saber sobre sorteio da Libertadores nesta segunda-feira (17)Há 3 horas
Vereadores e deputados alagoanos se manifestam pedindo anistia, mas esquecem que Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe