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27/09/2024 às 18h33 - atualizada em 28/09/2024 às 13h38

Acta

MACEIO / AL

Policial prende criminoso que matou o pai dela há 25 anos
Givaldo José Vicente de Deus foi assassinado com um tiro em 1999; condenado pelo crime ficou foragido por oito anos. Filha se formou em direito, prestou concurso e passou a trabalhar com investigações na Delegacia de Homicídios, em Roraima.
Policial prende criminoso que matou o pai dela há 25 anos
Gislayne Silva de Deus, de 36 anos, dioz que prisão do assassino do pai 25 anos após o crime deixou família aliviada. FOTO: Polícia Civil/Divulgação e reprodução

O Carnaval de 1999 ficou gravado para sempre na memória de Gislayne Silva de Deus, hoje escrivã da Polícia Civil, aos 36 anos. Com apenas 9 anos na época, ela teve o pai assassinado em plena luz do dia. 25 anos depois, Gislayne participou da operação que prendeu o criminoso. O g1 relembra o caso que mudou para sempre a vida da família da policial.


? Foragido desde 2016, o homem, de 60 anos, foi preso nessa quarta-feira (25) em Boa Vista. Raimundo Alves Gomes teve o primeiro mandado de prisão expedido ainda em 2016. Ele foi julgado e sentenciado em 2013 pelo Tribunal do Júri, do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), por matar Givaldo José Vicente de Deus, à época com 35 anos. Ele foi julgado 14 anos depois do crime e condenado a 12 anos de prisão pelo homicídio.


De acordo com os depoimentos feitos à época e das memórias da própria Gislayne, o crime aconteceu em plena luz do dia em época de carnaval. Ela relembra que o pai, que era marceneiro mas também tinha um mercado, montou uma tenda para vender variedades em uma avenida durante a passagem dos foliões nos blocos de carnaval..


O crime aconteceu no dia 16 de fevereiro de 1999 em um bar no bairro Asa Branca, zona Oeste de Boa Vista, por volta das 16h.


"Ele saiu da barraquinha para comprar umas coisas e passou no bar da Vanusa. Aí ele foi com um amigo, jogaram sinuca e tal. Era carnaval, estavam todos em clima de descontração", contou Gislayne ao g1 sobre o dia do crime.


Durante o jogo de sinuca, Raimundo Alves apareceu no bar para cobrar uma dívida de R$ 150. De acordo com Gislayne, Raimundo era fornecedor de produtos para o mercado de Givaldo e a dívida era desses acordos. Ela conta que o pai ainda tentou negociar a dívida oferecendo um freezer em troca.


"Meu pai disse: 'olha, eu não tenho dinheiro agora, mas tem um freezer lá, pode pegar'. O Raimundo só saiu, o meu pai achou que tava tudo bem e voltou a jogar sinuca com o amigo dele", explicou a policial.


Foi então que, meia hora depois, Raimundo voltou ao bar com uma arma na mão. Conforme depoimento à época, a dona do bar viu e chegou a avisar Givaldo que o homem estava armado e que iria matá-lo. Raimundo e Givaldo entraram em luta corporal e chegaram a rolar no chão.


"Meu pai tentou segurar o braço dele e eles entraram em luta corporal. O amigo do meu pai tentou ajudar, mas o Raimundo conseguiu virar a arma e atirou, acertando na região do umbigo", conta a escrivã.


Após o tiro, conseguiram desarmar Raimundo. O amigo que estava com Givaldo chegou a obrigar o assassino a levá-lo para o hospital e assim o fez.


De acordo com o depoimento dos agentes da Polícia Militar que atenderam o caso, Raimundo fugiu do hospital à pé, mas recebeu voz de prisão em flagrante a poucos metros do local. Ele estava com a arma do crime na ocasião e os agentes chegaram a perguntar pelos documentos do revólver, mas o acusado disse que não tinha documentação.


Raimundo foi solto e depois sentenciado em 2013. Ele só foi considerado foragido em 2016, quando teve o primeiro mandado de prisão expedido pela Justiça de Roraima. Agora, com ele preso, Gislayne comemora.


"Com a prisão dele, lavei minha alma e a de toda minha família. Foi o encerramento de um ciclo. Hoje temos paz e o sentimento de que a justiça foi feita", disse.


Prisão de Raimundo


A prisão do homem, feita por policiais da Delegacia Geral de Homicídios, foi na noite da última quarta-feira (25), em uma área de chácaras no bairro Nova Cidade, também na zona Oeste de Boa Vista. Um vídeo registrou o momento em que a escrivã ficou frente a frente com o assassino do pai (veja acima).


O crime de homicídio prescreve após 20 anos, a partir da sentença condenatória e se a pena for maior que 12 anos. No caso de Raimundo, que teve a pena de 12, a prescrição seria em 16 anos a contar da conclusão do julgamento, ou seja, em 2031 — faltavam sete anos para que isso acontecesse, explicou o Bruno Caciano, advogado e presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) em Roraima.


Gislayne contou ao g1 que, após o encontro dela com o assassino do pai, ele só disse uma frase:


"Não era minha intenção", disse Raimundo, assassino do pai de Gislayne, ao encontrar com ela.


Filha se formou e fez concurso


Aos 18 anos, em 2007, Gislayne começou a cursar direito em uma faculdade particular e, sete anos depois, se tornou advogada. Ela não planejou seguir a vida policial mas, acabou prestando concurso e foi aprovada.


Em 2022, ela ingressou na polícia penal de Roraima e atuou na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo e também no Departamento do Sistema Prisional (Desipe), inclusive durante sua gravidez. Ela contou que ao trabalhar em uma unidade prisional, imaginava ver o assassino do pai, enfim, preso.


"Quando eu era [policial] penal, eu imaginava sempre ele chegando lá para cumprir a pena dele", afirmou a policial.


Um ano depois ela foi aprovada no concurso público da Polícia Civil e no dia 19 de julho de 2024 assumiu como escrivã.


Ao ingressar na corporação, ela fez um pedido específico: ser lotada na Delegacia Geral de Homicídios (DGH). Gislayne acreditava que, por meio da unidade, poderia encontrar e, finalmente, prender o autor do crime.


No departamento, ela reuniu informações sobre o paradeiro do homem e localizou o último mandado de prisão, expedido em 2019 pela Justiça de Roraima.


'Não desistimos'


Para a Gislayne, a condenação só foi possível por conta da família, que nunca desistiu de que a justiça fosse feita. Em 2022, um tio dela chegou a ver o Raimundo Alves Gomes em Boa Vista, mas, na época, ela ainda não fazia parte da Polícia Civil, e as tentativas de localizá-lo foram frustradas.


"Essa nossa participação de buscar, ir atrás, não deixar ele ficar impune já tem um bom tempo. Se nós não estivéssemos lá não teria tido júri e o promotor teria pedido absolvição. Então, a condenação foi em razão da gente não deixar realmente passar impune", disse.


Agora, para ela, a sensação é de que a justiça foi feita.


"Isso não vai trazer nosso pai de volta, mas ele [o assassino] vai cumprir a pena que deveria ter cumprido há muitos anos", declarou.

FONTE: g1

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