02/01/2023 às 16h58
Felipe Farias
Maceió / AL
Há tempos tinha a ideia de postar algo assim. Mais do que ideia, uma meta – obrigação.
E mais do que pauta, como que para exorcizar, dar um adeus, sair do pesadelo do governo que o Brasil elegeu em 2018.
Ainda mais pela falta de noção de tantos em ainda apoiar um governo que não tinha o elemento fundamental, a “alma” de um governo: a empatia com seu povo.
Porém, colegas de portais nacionais chegaram antes – e, diga-se, com textos bem mais elogiáveis, abalizados, sagazes e incisivos.
Vide o do blog “Política por elas”, de Rejane Negreiros e Juliana Teixeira.
Porém, não poderia deixar de fazê-lo – também.
Para o que se passou é mandatório fazê-lo: dizer um sarcástico e o mais afrontoso possível “obrigado”.
Antes, contudo, frise-se: com todo e o mais profundo respeito a todos quantos vivem ou viveram as situações, os reveses citados.
Por vezes, menciono a anedota segunda a qual, na criação, foram distribuídas as intempéries e ambientes adversos pelo mundo: furações e terremotos, tsunamis e vulcões, desertos, geleiras e avalanches. Alguns lugares, aliás, “agraciados” com mais de um desses.
De imediato, povos que os habitariam, questionaram, alegando suposto desequilíbrio na distribuição – e, em particular, por haver um lugar onde não apenas não havia nenhum deles, como se tinha sol e um clima, proporcionalmente, igual o ano todo, terras férteis, água em abundância, florestas, biodiversidade.
Ao que o criador retrucou: “calma, espera só para ver o povo que eu vou botar lá”...
Em outras palavras, o povo estragaria tudo – se compararia às tragédias naturais.
Ou, como esclareceu a jornalista Tereza Cruvinel, a quem relatei a anedota quando esteve em Maceió a convite da programação do evento “Diálogos contemporâneos”: na verdade, caberia uma correção – no lugar de povo, disse ela, seria “espera para ver a ‘elite’ que eu vou colocar lá”.
Pertinente.
Da maior tragédia do século XX – esta, curiosamente, não causada pelas forças naturais, mas, pela insanidade e pelo que há de mais vil na mente humana – os europeus descobriram o preço de perder a liberdade; os japoneses, o poder que uma bomba pode ter; o mundo, o horror do Holocausto.
Mas, não ficou por aí: deparamo-nos com o terror de constatar que podemos nos destruir e ao único lugar onde podemos viver, no universo; do que pode resultar da manipulação de massas, da aberração que é uns se acharem superiores aos demais e, sobretudo, da insensatez de abdicar do próprio raciocínio, para pensar como um rebanho.
E ainda fomos nós, humanos – ou, pelo menos, assim, autodenominados –, que espalhamos a fome, os regimes totalitários, a cassação da liberdade.
E eis que, ironicamente, de alguns dos povos que convivem com as tais intempéries vieram exemplos de solidariedade, empatia e justiça social.
Mas, para comprovar que o duro aprendizado daí decorrente não chegou para todos, o vilão russo Vladimir Putin impôs a devastação pela guerra aos ucranianos.
Palpite meu: de tanto conviver com tragédias regulares, sabem dar valor à solidariedade, ao agir em conjunto, como povo, como ser humano.
Afinal, tiveram que aprendê-lo a preço muito alto.
Diz-se que uma das maiores emoções é ouvir o hino de seu país ao hasteamento de sua bandeira, estando longe dele, em outro lugar.
A bandeira gigantesca, nas mãos da multidão, na Esplanada dos Ministério, no último domingo (1º), foi uma tocante metáfora de o brasileiro se apoderar de um símbolo nacional que, não há como negar, lhe tinha sido sequestrado por bandos que reivindicavam a quebra da ordem institucional, o desrespeito ao princípio basilar da democracia (a escolha pelo voto – lembremos que não houve provas de fraudes) e a cassação de um dos bens maiores a duras penas conquistados por outras gerações: a liberdade – com a famigerada volta da ditadura.
Os europeus levaram os seis anos da Segunda Guerra para aprender as lições que cunharam povos mais evoluídos socialmente.
Ucranianos que sofrem desde o século XII (com Gengis Khan), e outros tantos povos, de muito antes, ainda vivem com a falta de aprendizado e de evolução de seus semelhantes, que lhes impingem dor, sofrimento e morte.
Os alemães se unificaram após 1989; os coreanos, separados desde a década de 1950, ainda estão, oficialmente, em guerra.
Será que nós, brasileiros, depois de brigarmos entre colegas e familiares, por causa de Bolsonaro, vamos aprender alguma coisa?
Não temos vulcões, furacões ou desertos continentais.
Mas, temos o flagelo da fome.
O povo se reencontrou consigo, sentiu se reencontrar com seu país, se apropriou de seu maior símbolo, sentiu poder confiar em seu maior mandatário (porque ele chora ao lembrar compatriotas com cartazes em que dizem estar com fome).
O Brasil experimentou um sentimento de se libertar de palavras de ódio, sentiu – enfim! – poder confiar em quem está no Planalto.
Porque em vez de afastá-lo (ou colocá-lo num cercadinho), o convidou a subir a rampa.
Foi, sim, memorável.
Uma Bastilha sem fogo, sangue e sem caos.
A Bastilha "à brasileira" com lágrimas, dor de saudades, mas, em paz!
A emoção de muitos, sentindo sair do peso de uma opressão, livrar-se do amargor de uma quase guerra civil e de toda uma sorte de violações daí decorrentes mostrou que, na ausência de guerras, de furacões, vulcões ou desertos continentais, tivemos o governo de Bolsonaro para nos fazer aprender o que povos levaram séculos para descobrir.
Talvez, pelo menos por isso, haja razões para registrar um “agradecimento” a ele – mesmo que seja com toda ironia possível.
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