08/06/2025 às 10h44 - atualizada em 08/06/2025 às 11h35
Acta
MACEIO / AL
Texto: Pollyana Almeida
Fotos e Vídeo: Itawi Albuquerque
A pouco mais de 120 km de Maceió, Maragogi é celebrada como um dos destinos mais encantadores do turismo brasileiro, famosa por suas piscinas naturais e mar cristalino. Mas além das paisagens paradisíacas, o município abriga uma riqueza que vai além da beleza: a força transformadora do empreendedorismo social. Em meio aos assentamentos rurais, mulheres se destacam com arte e sabedoria ancestral, elas extraem do pseudocaule da bananeira — a estrutura que sustenta o caule e que até então era descartada — para criar uma matéria-prima com a qual bordam sonhos e constroem autonomia. São as Mulheres de Fibra, que tecem com as próprias mãos um modelo de negócio sustentável, fortalecendo a economia local e inspirando outras mulheres a reescrever suas histórias com coragem e dignidade.
Quando o talento encontra oportunidade
A história das Mulheres de Fibra começou em 2009, quando dez agricultoras da comunidade se reuniram em busca de alternativas para gerar renda sem precisar sair da zona rural. O artesanato foi aprendido com mulheres de comunidades vizinhas. Logo, tornou-se uma fonte de esperança. Com apoio do Sebrae, da Prefeitura de Maragogi e da Coopeagro, a associação foi formalizada em 2011, e o que era apenas um ofício passou a ser um modelo de empreendedorismo social.
Com capacitação, dedicação e troca de saberes, as peças ganharam qualidade, identidade e mercado. Hoje, são vendidas na sede da associação, em feiras especializadas e até em lojas nas principais capitais brasileiras. Mais do que um ofício, o artesanato tornou-se ferramenta de autonomia e transformação social.
O papel do Sebrae no fortalecimento do projeto
O Sebrae, instituição nacional de fomento ao empreendedorismo, tem sido peça-chave no fortalecimento de iniciativas que unem inovação, sustentabilidade e transformação social em todo o país. Em Alagoas, o apoio ao projeto Mulheres de Fibra é um exemplo do impacto real que essa atuação pode gerar.
Desde os primeiros passos, o Sebrae esteve ao lado do grupo, oferecendo capacitações em gestão, design e associativismo, além de apoiar a estruturação da associação que impulsionou o negócio coletivo das artesãs. Com esse suporte, as mulheres do assentamento Água Fria transformam a fibra da bananeira — antes descartada — em renda, arte e identidade.
A conquista do prêmio Top 100 Sebrae de Artesanato, em 2022, reforça a força e o alcance desse trabalho. Como destaca Érica Pereira, analista técnica do Sebrae:
“Nossa atuação tem sido fundamental para o desenvolvimento dessas mulheres. Isso tem permitido que elas melhorem sua produção e aumentem sua renda. O reconhecimento nacional que receberam é um exemplo do impacto positivo que nosso trabalho pode ter. Estamos comprometidos em continuar apoiando iniciativas como essa, que promovem a autonomia e o empoderamento das mulheres.”
O Mulheres de Fibra é hoje mais que um projeto: é um exemplo de econegócio sustentável, protagonizado por mulheres que transformam o que vem da terra em futuro, com mãos firmes, arte viva e empreendedorismo que rompe fronteiras.
Uma nova cara para a renda filé
A tradicional renda filé, de origem europeia e registrada como Patrimônio Cultural Imaterial em Alagoas, ganhou um novo significado no assentamento Água Fria, conhecido oficialmente como 08 de outubro. Enquanto no litoral o filé é bordado com linhas coloridas de algodão, essas mulheres ousaram dar vida à técnica usando fibras naturais extraídas do pseudocaule da bananeira, planta abundante na região e antes descartada.
A extração da fibra revela três tipos principais — a seda, mais delicada, ideal para os pontos do bordado; o filé, mais firme, usado nos acabamentos; e a renda, mais bruta, empregada com moderação — cada uma com textura e uso próprios. O algodão forma a base, esticado em um tear de madeira, mas é nas mãos dessas artesãs que surge um artesanato autêntico, com pontos tradicionais como arroizinho, oito oitenta, esteirinha, flor mimosa e olho de pombo.
O resultado? Peças únicas que vão de luminárias a colares, de jogos americanos a bolsas, todas marcadas pela originalidade e pela consciência ambiental.
De Maragogi para o mundo
A sede da associação é uma charmosa casa de taipa verde e amarela, parada obrigatória no roteiro de ecoturismo de base comunitária da Trilha do Visgueiro, nome que homenageia uma árvore centenária da região. Lá, visitantes têm a oportunidade de conhecer o processo artesanal, participar de oficinas e mergulhar em um modo de vida guiado pela coletividade e pela sustentabilidade.
A região, que um dia foi marginalizada pela elite canavieira, hoje se orgulha de ser palco de uma revolução silenciosa, movida por mulheres que transformaram o invisível em potência econômica e social.
Da terra para as passarelas
O trabalho artesanal das Mulheres de Fibra ganhou destaque nacional ao integrar o desfile da estilista Fernanda Galindo, no evento, Destinos e Experiências, realizado em abril de 2025, no Ibis Styles Maragogi. A coleção uniu design autoral e sustentabilidade, com peças confeccionadas a partir da fibra da bananeira — matéria-prima transformada com maestria pelas artesãs da associação.
O ponto alto foi o vestido de noiva com bordado em filé, flores esculpidas à mão e uma estética sofisticada e orgânica. Mais do que moda, a apresentação representou o reconhecimento da força criativa dessas mulheres que unem tradição, natureza e geração de renda.
A parceria com a estilista marca uma nova fase do projeto, conectando o fazer manual das comunidades rurais com o universo da moda autoral brasileira. O desfile reforça a potência do artesanato como ferramenta de transformação social e econômica — e consolida o valor do trabalho dessas mulheres no cenário nacional.
Empreender para resistir: a força das mulheres de Água Fria
No assentamento Água Fria, em Maragogi, o artesanato com fibra de bananeira nasceu de uma necessidade prática: garantir renda sem abdicar do cuidado com os filhos. Trabalhar na roça era difícil com crianças pequenas, e a alternativa encontrada foi transformar o que a terra oferecia em arte.
Com apoio mútuo e muita persistência, as mulheres criaram a Associação Mulheres de Fibra. O início foi desafiador — sem estrutura, sem mercado, sem garantias. Mas a vontade de fazer dar certo falou mais alto.
“Quando a gente começou, era só lona e esperança. Hoje, ver nossas peças viajando o Brasil e gerando renda pra gente é mais do que conquista: é resistência”, ressaltou Amara Lúcia, uma das fundadoras do projeto.
A história das Mulheres de Fibra mostra como o empreendedorismo social pode transformar realidades, dando voz, dignidade e protagonismo a quem por muito tempo ficou à margem. É mais do que trabalho — é identidade, cultura e futuro.
Mulheres que tecem o futuro
Essas artesãs são mais do que produtoras de renda: são lideranças, exemplos de superação e inspiração para as novas gerações. Elas provam, com mãos firmes e alma criativa, que é possível gerar renda com propósito e transformar a natureza em aliada de um modelo econômico sustentável. Onde muitos viam descarte, elas enxergaram oportunidade: tiram da terra a fibra da bananeira — um insumo antes ignorado — e o transformam em arte, beleza e dignidade. Seus filhos crescem aprendendo que essa fibra carrega não só tradição, mas a força de viver da própria terra. O artesanato, quando aliado ao empreendedorismo consciente, torna-se uma chave poderosa de autonomia, identidade e futuro para quem planta, colhe e cria.
As Mulheres de Fibra mostram que mesmo nos recantos esquecidos pelo olhar urbano pulsa um talento singular, onde criatividade e resiliência se unem para transformar realidades. Com mãos firmes e corações pulsantes, elas não apenas produzem arte, mas tecem o futuro — mais justo, sustentável e conduzido por mulheres que resistem, inovam e inspiram.
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